19 de febrero de 2008

MIRAD QUE TENIENTE ALCALDE TIENE MARVAO

Os pongo un comentario del Blog de Pedro Sobreiro, que le he robado, espero que no le importe, y que expresa el dolor y la pena por todo lo que hemos perdido, por lo que nos han robado y no han repuesto, tanto ellos como nosotros, al abrir las Fronteras y ver como nuestros pueblecitos pequeños y las estaciones de la Beira y la nuestra, han ido pasando a desiertos sin vida ni futuro....... ( o con muy poca vida, perdón).

Espero que lo entendáis , yo siento verguenza cuando en un grupo de diez personas, españoles y portugueses, como hoy, todos los portugueses hablan español y ningún español habla portugués............ ! Vamos a perder ese sentido del ridículo, pero ya!.... a esforzarse tocan.....merece la pena.


Pesar...


Volto à minha Beirã para um funeral, mais um funeral, confirmando uma estatística tenebrosa que teima em se reafirmar.

Chove como nunca antes neste ano e o Inverno parece ter chegado de vez.

Quando entrei na calçada de paralelos reparei que o ribeiro, onde eu brinquei verões em fim, parecia querer transbordar pela força da enxurrada.

Apagou-se mais um vulto, uma personagem, uma figura daquelas muitas que compunham o universo da minha aldeia. No caso, o Sr. Correia, figura distinta e com uma classe cativante de outros tempos que eu conhecia desde que me lembro. Já tinha muita idade mas a sua lucidez clarividente e a aparente forma física enganavam quem lhe queria decifrar a idade.

O Sr. Correia era daquelas pessoas que ainda hoje me tratavam por Pedrito e me faziam sempre sentir que ainda tinha seis anos e podia sair a correr por aqueles canchos fora, de fisga no bolso e maço de Kentukis na mão, sem que ninguém me pudesse apanhar.

Nem sabia que estava doente, de forma que me apanhou assim de surpresa.

Via-o na Anta, quando por lá passava, e cumprimentava-me sempre com extrema delicadeza. A Dona Fortunata, sua esposa, parecia-me sempre mais abatida e chorava quando eu cumprimentava, deixando fugir pela face abaixo umas lágrimas furtivas com saudades de sabe-se lá o quê. Do tempo… Como se eu fosse um elemento que vinha do passado para a assombrar ali, uma memória de épocas que sabia que já não podia viver.

Porque a vida tem destas coisas e se há sítios que eu dispenso, são os funerais.

E não é por muita coisa. Custa-me sobretudo por motivos óbvios:

porque há sempre gente que faz questão de falar de tudo e de nada sem sequer ter noção do que está ali a fazer (até negócios de gado uma vez ouvi fazer em pleno velório)...

porque há rapaziada que vai para ali como se fosse para o cinema, só para ver a dor alheia num espectáculo de comiseração sem par...

porque fico completamente sem jeito e sem saber o que hei-de fazer e como hei-de reagir...

e sobretudo, porque para haver um funeral, tem de haver alguém que deixou de existir, que deixou de respirar, que deixou de ser.

E isso dá-me muita pena.

Depois das condolências, vim para o exterior e via a chuva cair quando dois olhos me sorriram do lado de lá da soleira. O Primo Amieira e o Chefe Neves, falavam dos tempos passados e dizem-me eles (os dois para aí na casa dos 80), a mim (34!): “ai Pedrito, o que vai ser da nossa Beirã. Tudo acaba!”.

E esta é uma coisa fantástica para se dizer porque o facto de termos os três vivido uma Beirã nos seus tempos áureos, ainda fervilhante de vida comunitária e de força, faz com que haja um elemento transversal às nossas vidas que é capaz de superar a própria idade.

Estes dois jovens, que conheceram bem o meu avô Sobreiro, que eu já não tive a sorte de apanhar nesta encarnação, falaram comigo como contemporâneos na plena acepção da palavra.

Quando encontro o meu amigo e vizinho João José Bicho (também nos oitentas?) a beber café com os seus amigos de geração, costumo gracejar e dizer “eh pessoal do meu tempo!” e eles riem-se mas eu sei que tenho razão. Se estamos todos vivos na mesma altura, então são do meu tempo! E se assim é, estes dois amigos da Beirã de hoje fizeram-me acreditar nisto como nunca.

Na minha mente e na deles persiste a mesma ideia: a da extinção de uma terra.

Pode haver Antas e UAIS e trabalhos ultra-meritórios, que eu respeito profundamente, mas tratam-se de cuidados paliativos. Balões de soro e oxigénio que retardam a sobrevivência mas jamais devolverão a qualidade de vida. A da nossa aldeia já foi.

Pergunto-me se os romanos que viveram no apogeu do império e os que sentiram as primeiras rupturas no casco terão tido noção do que se passava à sua volta.

Na minha terra foi diferente, morreu com data marcada, quando as fronteiras se abriram para a Europa e as do futuro se fecharam para nós, como eu costumo dizer.

Nascida com o progresso. Sacrificada pelo progresso.

A história de uma terra e de duas ou três gerações, num abrir e fechar de olhos.

Quando por ali estou, percebo aquela história dos elefantes irem todos morrer ao mesmo sítio, ao lugar deles, onde se sentem bem.

Por pouco ou nada que ali haja, cada pedra tem uma história, uma memória, um significado, uma palavra para preencher este quebra-cabeças que é a nossa existência.

A Beirã há-de ser sempre nossa e nós dela, sobretudo quando há mais um elo que quebra e se dissolve para sempre.

Falei por telefone com o Jorge Miranda. Ligou-me em missão diplomática e acabámos por falar num almoço que há muitos anos vimos acalentando, com os miúdos todos daquele tempo cujo rasto perdemos pela vida fora. Perguntei-lhe se era em Setembro e ele disse-me que a altura era boa.

Será que somos capazes? Eu imagino logo uma sala enorme e nós todos mais gordos, mais carecas, com filhos ao colo e a rirmo-nos de nós. Há gente que eu gostava bem de abraçar…

De tarde proponho uma visita às Acácias, ao tanque da Broca, à Estação e ao Campo da Bola (Será que ainda lá vive a família de lacraus debaixo das pedras da baliza?).

À noite, jogamos aos castelos nos Adro da Igreja até o cuco cantar.

Alguém alinha?

3 comentarios:

Goyi dijo...

Goyi disse...

Sólo tu me haces llorar a estas horas de la noche.
No lloro por el hombrecito que murió, al fin y al cabo, a todos nos llegará la hora y además, convivo diariamente con la muerte, y, como decía mi abuelo: puedo mirarle a los ojos, ya no la temo , aunque no la quiera ni la busque.

Lloro por esos niños que nunca jurarán en el patio de la Iglesia de tu pueblo y de otros pueblos de mi tierra, lloro por esos viejitos que nunca tomarán los últimos rayos de sol de su vida en la plaza del Ayuntamiento, lloro porque cuando paso por la casa donde mi padre nació y se crió, sólo veo yerbas y paredes en ruinas llenas de alimañas, lloro por esos campos de fútbol, donde llegará un día en el que ni siquiera los alacranes se escondan debajo de las piedras, y lloro pensando en lo duro que debe ser volver a lugares donde jugaste, reíste, lloraste y quizás, latió por primera vez tu corazón frenético, al ver a la chica de tus sueños, vacío, desierto y morir lentamente pero sin pausa.

También lloro por todo lo que nos han robado al abrir las fronteras, a vosotros y a nosotros, y por todos aquellos que tuvieron que marchar lejos y no tendrán oportunidad de cerrar los ojos por última vez, contemplando desde su ventana, como tu y como yo, la belleza y el embrujo del Castillo de Marvao.

Besitos llorones para mi "yerno".....

Que bonito escribes!, vamos a ver que tal interpretas!

Nexo dijo...

Goyi pasaté por el enlace siguiente del otro blog:

http://valenciadealcantaraysugente.blogspot.com/2008/02/una-veintena-de-profesionales-de-la.html

Goyi dijo...

Juanito, a que tu si la entiendes perfectamente la historia de Pedro Sobreiro? y no te pega un pellizco en tu corazoncito de fontañero?..... Da tanta penita nuestra campiña y nuestros campitos vacios, y las escuelas que estuvieron llenas de niños!....

Besitos a Lucia y Maria, que ya me han dicho que el pueblo está mucho más límpio y me ha gustado ese detalle.